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Eduardo Giannetti
eduardo giannetti g
Como você teve a idéia de escrever um livro sobre auto-engano?
Leio muito e fico tomando notas, eu não sei muito bem porque. Há muito tempo estava cismado com este assunto, com as mentiras que nós contamos para nós mesmos, o auto-engano. Eu já tinha colecionado muito material, já tinha tomado muitas anotações sem qualquer idéia de fazer disso um livro. O assunto sempre me pareceu muito intrigante, até que um dia surgiu a idéia: escrever um livro, fazer uma reflexão sistemática sobre o assunto. Usei anotações que havia feito desde 1979.
Quais as situações mais freqüentes do auto-engano?
Há muitas delas. A experiência mais freqüente e universal é a do sonho. Você tem a sensação de uma experiência genuína mas ao despertar percebe que uma parte da sua mente manipulou as outras naquele momento em que o sonho durou. Eu tenho a experiência de muitas vezes ficar em dúvida se uma coisa foi sonho ou realidade, isso é uma experiência muito forte e acho que é universal de auto engano, a possibilidade de uma parte da mente convencer a outra de que algo está acontecendo sendo que não está, e algumas vezes fica uma fronteira indefinida, você não consegue saber se uma coisa aconteceu ou não, às vezes fica muito claro saber que aquilo não aconteceu, era um sonho, mas em outros momentos fica meio confuso.
Como o auto-engano se manifesta na vida cotidiana?
Um exemplo comum é o hábito das pessoas cronicamente atrasadas resolverem adiantar o próprio relógio para se tornarem mais pontuais. Outro exemplo é o da vendedora da loja de roupas femininas - ela sabe que sua cliente está levando uma roupa um número menor do que deveria levar, mas não consegue convencê-la do contrário.
O placebo é um exemplo do auto-engano?
Eu tenho a impressão que em alguns casos a pessoa se sentindo medicada melhora. Já conversei com médicos sobre doentes terminais que freqüentemente entregam os pontos, se rendem e facilitam de alguma forma o avanço da doença. O doente que mantém acesa, mesmo sem chance, a chama que pode vencer o mal, parece que objetivamente acaba tendo maior chance de se recuperar.
Como lidar com a nossa vida finita num universo infinito, sem o auto-engano?
Na verdade, a vida humana seria insuportável se nós tivéssemos consciência plena da nossa insignificância e do caráter efêmero e contingente de tudo o que acontece. Estas crenças funcionam como uma cegueira protetora. Mas há uma diferença muito grande entre a mentira interpessoal e a mentira intrapessoal que é aquela que nós contamos para nós mesmos. Na primeira há uma assimetria de informações, eu sei alguma coisa do outro e manipulo a informação de modo a iludi-lo. No caso da mentira intrapessoal não há assimetria: eu não posso dizer para mim alguma coisa da qual eu não acredito e acreditar no que eu mesmo me disse. Surge então um problema lógico espinhoso, provavelmente há uma multiplicidade de áreas do cérebro que conflitam e pregam peças umas nas outras, ou seja, a mente humana não é completamente integrada.
O que você acha de remédios para dormir?
O grande perigo é que eles afetam a memória. Através de pesquisas, descobriu-se que ao dormir as pessoas transferem a memória de curto prazo para a memória permanente ou profunda. Qualquer interferência química no sono perturba esse arquivamento das recordações na memória profunda. Por isto é que esses remédio dão de fato um problema de amnésia, esquecimento.
Você acha que qualquer ansiolítico é uma espécie de auto-engano que se compra na farmácia?
Talvez a medicina avance a ponto de tornar disponível uma pílula da felicidade instantânea, que lhe transporte para o momento mais feliz da sua vida, sem seqüelas e sem afetar o desempenho da vida prática. Mas se tal pílula existisse nós não deveríamos utilizá-la. Uma pessoa sem insatisfações torna-se improdutiva. Tomando a pílula, o que faria alguém mudar, criar, inovar, fazer alguma ação diferente na busca de um mundo melhor?
Como encontrar o equilíbrio entre cuidar do futuro e viver o presente?
Não há resposta definitiva para isso. Quanto alguém está disposto a sacrificar da juventude para ter uma velhice mais segura e confortável? Na nossa cultura as pessoas tendem a sacrificar seus interesses futuros, como mostra nosso problema previdenciário mas também há exageros na direção oposta, pessoas que passam a juventude toda obsecadas com a velhice. A gente pensa na exploração como algo interpessoal mas a exploração pode ser uma relação intrapessoal, no tempo, quem eu sou hoje explora quem eu serei amanhã ou vice-versa. Esse é o grande desafio: como é que você distribui ao longo do tempo seus interesses, ações e valores.
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